Você já reparou que quando estamos finalizando uma transição a gente tenta se agarrar no que éramos ou o que conhecemos como normal?
Um exemplo prático:
Essa semana ouvi a seguinte frase: na vida você precisa escolher se quer ser princesa o rainha. Na mesma hora pensei “Rainha!”, fiquei pensando sobre isso depois, tanto sobre o que isso significava pra mim, quanto o porquê de eu ter respondido tão rápido que queria ser Rainha, enfim, nessa nova fase que eu estou entrando faz muito mais sentido pra mim.
No dia seguinte eu comecei a falar com uma voz um pouco infantilizada e dar risadinhas de coisas que eu nunca acharia engraçado.
E pensei: que???? Por que estou me colocando nesse lugar de “garota fofinha? Princesa!!”
Claro que não acho que tudo seja 8 ou 80, super simples que a gente seja uma coisa ou outra, mas acho que estava reagindo à minha decisão de abraçar a nova fase de “mulherão da P**”.
Outro exemplo: decidi umas coisas sobre meu 2024, tanto profissionais quando onde vou passar uma boa parte do meu ano (não sei se você sabe querido leitor, eu sou nômade, ou seja eu vivo em vários lugares por ano). Fiquei super feliz por decidir e ter o que planejar agora, e assim que acordei hoje de manha pensei “quero voltar pra casa no Brasil, quero meu antigo apartamento, a piscina do meu prédio, meu melhor amigo pra comer de final de semana, vou ligar para o meu ex-chefe e ver se ele me contrata.”
hahahahhahaa
Toda vez que eu sei que vou mudar de fase, por um segundo - ou 15 minutos - eu fantasio sobre a outra que esta acabando e penso “e se eu ficar aqui? já é conhecido, sei o que é bom ou ruim, sei como navegar, pra que vou me mexer? a zona de conforto é boa!!!”.
Claro que a essa altura da minha vida eu me conheço um pouco melhor e sei que essa fantasia de “voltar na fase que eu tava” é só uma fantasia - e eu até deixo minha cabeça ir lá um pouquinho, porque eu sei que é só isso, uma fantasia.
Eu sei que não aguentaria mais aquela vida (que não existe mais), eu sei que não caibo mais nos sapatos de princesa, eu sei que aquele meu melhor amigo, não é mais meu melhor amigo.
Conversando com uma amiga hoje ela estava comentando de como estava brava com sua família, como estava reativa, pois ela tinha mudado muito nos últimos meses, e queria ter o direito de ser sua nova versão, e eles não entendiam, não permitiam. e ela estava frustrada, brava e se sentindo deslocada.
O que eu respondi pra ela, eu falo pra mim mesma todas as vezes que me pego tendo essa reação: muitas vezes a gente muda e nem percebe, mas quando encontramos alguém de “antes” isso fica claro, e ai temos que entender o que mudamos e ficamos eufóricas, e queremos falar, e ser ouvidas, e bater de frente, e “vai ter que me engolir” e o “outro não me respeita”.
Respira
Eu chamo essa fase de “adolescência da mudança”.
Nem a gente se entendeu direito, estamos sentindo muito mais que racionalizando, e queremos que o mundo nos entenda e mude e zaz e zaz e zaz.
Na minha experiência, assim como adolescentes, a gente acaba frustrada, brava, confusa e se recolhe, e rumina tudo, e espera a mudança assentar um pouco sabe?
Ai a gente fica mais tranquila em relação ao que mudou na gente, nos entendemos melhor, a como vamos apresentar isso e para quem. E eventualmente percebemos que o outro não “tem que nada”: Não tem que entender, não tem que aprender, não tem que mudar só porque nós, os alecrins, mudamos.
Muitas vezes o que acontece é que acabamos nos afastando um pouco do convívio das pessoas que não estamos mais na mesma sintonia.
Na teoria funciona, o problema da prática, é que as primeiras pessoas que a gente normalmente bate forte de frente nessas mudanças, são da nossa família. Pessoas que são muito próximas e iremos conviver por mais tempo.
Dificilmente vai ser um problema muito grande quando encontrar aquele amigo num bar por 2 horas, mas ficar 4 dias com a sua mãe? Bem, ai a história muda não é mesmo?
Vai ser difícil, vai precisar de muito jogo de cintura, achar válvulas de escape, mas é possível, prometo. Toda mudança passa, tudo se ajeita, tudo a gente se acostuma e organiza.
Não adianta, pra chegar na outra margem, temos que soltar a mão da margem que estamos, e entre as duas vamos ter que nadar, ou boiar, nos debater, nos acalmar, pra não morrer afogado, vai dar vontade de apoiar na primeira margem pra respirar um pouco, mas vamos precisar cruzar até chegar na próxima margem.
Já que vamos estar na água de qualquer forma, escolha sua boia favorita e aproveite.
Nossa, li tantas verdades.... adorei! E sendo princesa, rainha ou boba da corte, pode contar comigo para ser sua pata, ou melhor, sua boia. Te amo!